terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Silvas de investigações musicológicas tomarenses

[ Um dos objectivos da Casa Memória é divulgar factos musicais que de alguma forma se possam ajudar a um melhor conhecimento sobre o compositor tomarense ]

A primeira noticia sobre um Mestre Capella na Santa Casa da Misericórdia de Tomar data de 1818 e versa a situação de doença crónica de Frei João da Silva (livro 113) o qual por esse motivo seria substituído nas suas obrigações e nos seus impedimentos por Frei Nuno Cláudio da Costa Lopes que, continuando ainda a acumular com o cargo de capelão da Capela de Feliciana Gertrudes Rita Suzana, passava a ganhar metade do ordenado de Frei João Silva enquanto aquele fosse vivo mesmo que impedido para a função.

Em 20 de Julho de 1820 existe ainda uma referência à renovação do contrato de Padre Capelão, Mestre da Capella e empregado desta Casa a respeito do mesmo Frei João da Silva (pág. 5 do Livro de despesas) com quem se estabeleceram as seguintes condições contratuais:

Primeiro: Aprontar a Missa de Nossa Senhora, todos os Sábados, que de ora em diante deverá, sem falência, ser cantada na forma do costume, às oito e meia horas de 21 de Março até 21 de Setembro, às 9 e nunca deverão ser menos de três Padres à estante.

Segundo: Aprontar às tardes da Quaresma, sempre que haja sermão, com eloquente música de vozes e bem aquela decência que o acto pede.

Terceira: Acertar e aprontar a competente música de Vozes para os nove dias de Novena e no dia da Procissão dos Passos também com a possível decência aprontando a música mesmo para instrumental no caso da Meza lho ordenar, entendendo-se que aos músicos de instrumental fica a Meza obrigada a pagar-lhes e ao Mestre Capela pertence falar-lhes como lhe for ordenado.

Quarta: Aprontar em Quinta-Feira Santa a missa cantada e a procissão à noute com a sua competente música.

Quinta: finalmente assistir à Festa da Visitação a Santa Isabel, quando a Meza queira fazer algum arranjo da música ser obrigação sua fazê-lo ficando a receber em dinheiro pago em quantia e de vinte reis e de alqueires de trigo pago na ocasião e isto anualmente.

Segundo o Livro dos Compromissos da Misericórdia, a Santa Casa da Misericórdia de Tomar tinha de ter um Mestre Capela que (artº 109 do 4º), para além das obrigações já citadas tinha de assistir a todas as festividades ordinárias e extraordinárias, que se fizerem na Capella, preparando a música necessária e falando aos músicos que a executam.

Em 1833, já era Mestre da Capella o Padre Nuno Cláudio da Costa, que assim passou a ganhar de ordenado em dinheiro 20$000 tendo 20 Alqueires de Trigo, soma e porção que se irá manter durante todos os registos conhecidos de outros Mestres Capela ao longo do século XIX.
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O Mestre Capela seria ainda obrigado a fazer arranjos da música quando solicitado pela Meza.
Dos dados assim recolhidos pode-se desde já registar que todos os Sábados se realizava música litúrgica durante uma missa cantada, com pelo menos três padres à estante, isto é, padres a cantar por partitura, que na quaresma se realizava ainda música de vozes, isto é, música coral e que por vezes se fazia música mesmo para instrumental, escrita propositadamente para o efeito e cujos músicos eram contratados pelo Mestre Capela.

São assim claras as referências a música coral polifónica e a música coral-sinfónica durante o século XIX na Santa Casa da Misericórdia de Tomar.

Para além de todas estas suas obrigações, o Mestre Capella tinha de assistir a todas as festividades ordinárias e extraordinárias que se fizerem na Capella, preparando a música necessária e falando aos músicos que a executam.

Da Capela, no sentido de organização musical, existe referência ao material presente no Coro Alto da Igreja da Capela da Misericórdia, no qual surge uma importante alusão, em 1846, à existência de um órgão colocado no coro o qual veio do extinto Convento de Cristo.

Trata-se do órgão positivo que neste momento (2010) se encontra há uma série de anos para restauro e que, afinal, não é outro senão o positivo amplamente referenciado noutros escritos acerca da Charola do Convento de Cristo.

Para além do órgão registe-se ainda a existência de um banco de encosto pintado d’azulado em bom uso, duas estantes para cantochão para além de várias estantes para músicos.

Dos Mestres-Capela da Santa Casa da Misericórdia de Tomar, para além de Frei João da Silva e do Padre Nuno Cláudio da Costa, há que referenciar como talvez o mais importante o Padre Afonso Vito de Lima Velho, a merecer tratamento específico no futuro. António de Sousa


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