Em Maio próximo, o pianista e musicólogo brasileiro José Eduardo Martins estará na Bélgica Flamenga a gravar dois CDs contendo obras de Fernando Lopes-Graça - "Cosmorame" que apresentou em Tomar no ano transacto, "Canto de Amor e de Morte" e "Músicas Fúnebres". Sendo um dos mais importantes intérpretes do repertório pianistico português, aproveitará esta sua viagem à Europa para nova pequena tournée por Portugal tendo tido a amabilidade de incluir a terra-natal do compositor Fernando Lopes-Graça.
Nesta sua nova gravação destaca-se o Canto de Amor e de Morte, que na "Tábua Póstuma da obra musical de Lopes-Graça" iniciada pelo compositor, concluída e acrescentada por Romeu Pinto da Silva (Caminho; 2009) é o opus 140 com direito à seguinte nota:
“começou por ser uma peça para piano solo que o compositor decidiu inutilizar, logo após a conclusão da versão de câmara, com o intuito de impedir a sua execução futura. Mas, talvez por esquecimento, não consumou a destruição da partitura que foi encontrada intacta em 1994 pelo próprio Lopes-Graça(…). Em 1962 o compositor viria a produzir uma terceira versão de Canto de amor e de morte, desta vez para grande orquestra, que considerou, não como uma orquestração da anterior versão de câmara, mas como uma nova obra (opus 151)".
O Canto de Amor e Morte com o autógrafo Lisboa, 1961, é uma obra chave e charneira na carreira do compositor. Por um lado, porque 1961 é o ano da morte de seu pai, facto que provocou no compositor uma depressão reactiva. Lopes Graça acabaria por ser internado na clínica “Dr. Henrique Moutinho”, onde se submeteu a um tratamento de intenso repouso, sem visitas, antes de um período de convalescença em Mafra, na casa de seu irmão José.
Por outro lado, porque "Canto de amor e de morte" é no dizer de Jorge Peixinho (AEFD, 1966) “a obra mais consequente e coerente na relação entre os diversos níveis de organização que a música portuguesa, com toda a sua verosimilhança, terá alguma vez logrado.”
È nesta dialéctica de factores artísticos, técnicos e afectivos que é gerado o "Canto de amor e morte”, obra onde o diatonismo e o cromatismo da linguagem musical do compositor tomarense são resolvidos no âmbito de um ainda contexto tonal levado às suas últimas consequências.
Em Junho de 2009, Romeu Pinto da Silva enviou uma cópia do manuscrito do "Canto de amor e morte" a José Eduardo Martins, solicitando-lhe que fizesse a sua análise e apreciação. Pelo estudo comparado com as duas outras versões (de câmara e de orquestra), José Eduardo Martins comprovou que, não só a obra está completa, como na sua opinião – "estamos diante de uma das mais importantes criações para piano da segunda metade do século XX num plano mundial".
José Eduardo Martins, neste concerto, guarda-nos uma outra primeira audição de Lopes-Graça: A integral das músicas fúnebres (opus 225), escritas entre 1981 e 1991,com a particularidade de a última (número 9) ser “Um saudoso adeus distante para Louis Saguer”, compositor e amigo de Lopes-Graça (que dirigiu o Coro da Academia de Amadores de Música durante a doença de Lopes-Graça, em 1961) e que foi tão só o professor de José Eduardo Martins, em Paris, precisamente por indicação de Lopes-Graça.
São estas algumas das obras que Tomar terá a honra de ouvir, na interpretação de uma dos maiores defensores e intérpretes não só de Lopes-Graça, como do próprio repertório pianistico português…E isto uma semana depois de terminado o V Concurso Lopes-Graça – Disciplina de Piano.
António de Sousa
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